30 abril 2007

ESTA É A CIDADE


Esta é a Cidade, e é bela.
Pela ocular da janela
foco o sémen da rua.
Um formigueiro se agita,
se esgueira, freme, crepita,
ziguezagueia e flutua.
..
Freme como a sede bebe
numa avidez de garganta,
como um cavalo se espanta
ou como um ventre concebe.
..
Treme e freme, freme e treme,
friorento voo de libélula
sobre o charco imundo e estreme.
Barco de incógnito leme
cada homem, cada célula.
É como um tecido orgânico
que não seca nem coagula,
que a si mesmo se estimula
e vai, num medido pânico.
..
Aperfeiçoo a focagem.
Olho imagem por imagem
numa comoção crescente.
Enchem-se-me os olhos de água.
Tanto sonho! Tanta mágoa!
Tanta coisa! Tanta gente!
São automóveis, lambretas,
motos, vespas, bicicletas,
carros, carrinhos, carretas,
e gente, sempre mais gente,
gente, gente, gente, gente,
num tumulto permanente
que não cansa nem descansa,
um rio que no mar se lança
em caudalosa corrente.
..
Tanto sonho! Tanta esperança!
Tanta mágoa! Tanta gente!

António Gedeão

2 comentários:

Anónimo disse...

A cidade perde-se de mim
quando acaso não persigo as ruas
mais escuras com todos os olhos
que trepam em guerra às muralhas
onde às vezes os gatos mais pardos
fazem brilhar suas luzes verdes de pirilampos entre craveiros
que libertam o aroma vermelho
de memórias eternas de revolução.

A cidade perde-se de mim
quando vagueio entre mil pessoas
que conheço do berço renascido
nas praças mais largas e antigas
de multidões exaustas enroladas
em cobertores de fumo dos Aliados
marcados a granito medido a saltoa
e passos sonoros que acordam o sol
para lá dos sinos das igrejas

A cidade perde-se de mim
com os ruídos frescos da manhã
nascidos das furgonetas do pão
das mulheres que esperam sempre sentadas à porta férrea do Bolhão
por pedaços das aldeias coloridas
e dos homens que cortam bacalhau
em postas de pescada bem ditadas
aos últimos turistas que chegaram

A cidade perde-se de mim
numa corrente de ar cheia de folia
entre os Clérigos e a Ribeira
sempre a descer, sempre a subir
entra nos barcos ancorados por ali
deixa o postigo do Carvão e vai
de Douro até à Foz dizer olá ao mar
e enrolar sonhos loucos nas ondas
que os namorados vão pescar.

A cidade perde-se de mim
à hora de ponta das navalhas
e do sexo furtivo às esquinas
A cidade perde-se de mim
nas traseiras do palco do S. João
mesmo no fim dos últimos actos
A cidade perde-se de mim
entre os teu beijos de manjerico
E eu, eu então perco-me na cidade!-RT

Anónimo disse...

necessario verificar:)


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