09 fevereiro 2016

À ESPERA DOS BÁRBAROS




 O que esperamos nós em multidão no Forum?

       Os Bárbaros, que chegam hoje.

Dentro do Senado, porque tanta inacção?
Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?


        É que os Bárbaros chegam hoje.
        Que leis haveriam de fazer agora os senadores?
        Os Bárbaros, quando vierem, ditarão as leis.


Porque é que o Imperador se levantou de manhã cedo?
E às portas da cidade está sentado,
no seu trono, com toda a pompa, de coroa na cabeça?


        Porque os Bárbaros chegam hoje.
        E o Imperador está à espera do seu Chefe
        para recebê-lo. E até já preparou
        um discurso de boas-vindas, em que pôs,
        dirigidos a ele, toda a casta de títulos.


E porque saíram os dois Cônsules, e os Pretores,
hoje, de toga vermelha, as suas togas bordadas?
E porque levavam braceletes, e tantas ametistas,
e os dedos cheios de anéis de esmeraldas magníficas?
E porque levavam hoje os preciosos bastões,
com pegas de prata e as pontas de ouro em filigrana?


        Porque os Bárbaros chegam hoje,
        e coisas dessas maravilham os Bárbaros.


E porque não vieram hoje aqui, como é costume, os oradores
para discursar, para dizer o que eles sabem dizer?


        Porque os Bárbaros é hoje que aparecem,
        e aborrecem-se com eloquências e retóricas.


Porquê, subitamente, começa um mal-estar,
e esta confusão? Como os rostos se tornaram sérios!
E porque se esvaziam tão depressa as ruas e as praças,
e todos voltam para casa tão apreensivos?


        Porque a noite caiu e os Bárbaros não vieram.
        E umas pessoas que chegaram da fronteira
        dizem que não há lá sinal de Bárbaros.


E agora, que vai ser de nós sem os Bárbaros?
Essa gente era uma espécie de solução.




Konstantínus Kaváfis
(tradução de Jorge de Sena)

Nota:  Poeta considerado o maior nome da poesia em grego moderno. Como escrevia também em inglês, o seu nome surge por vezes como Constantine P. Cavafy. Nasceu na cosmopolita cidade de Alexandria, no Egipto, em 1863, membro da numerosa colónia helénica que existia e ainda existe nessa cidade, que remonta a antes de Alexandre, o Grande. Estrangeiro na sua própria terra, conhecia muito pouco o árabe. O seu pai morreu em 1870 (7 anos), deixando a família em precária situação financeira. Como ele tinha vivido em inglaterra e tinha dupla nacionalidade, a sua mãe e os seis irmãos mudaram-se para lá dois anos depois. Devido a má administração dos bens da família por parte de um deles, a família foi forçada a regressar a Alexandria em 1877. Os sete anos em Inglaterra foram importantes na formação da sua sensibilidade poética. O seu primeiro verso foi escrito em inglês e o subsequente trabalho poético demonstra familiaridade com a tradição poética inglesa (Shakespeare e Wilde, por exemplo). Em 1822, devido a distúrbios políticos, a família mudou-se temporariamente para Istambul. Na pobreza e desconforto novamente em Alexandria a partir de 1885, escrevia poemas em inglês, francês e grego e teve as primeiras relações homossexuais. Trabalhou como jornalista, para a administração britânica e na Bolsa de Valores, tendo falecido em 1933, de cancro na laringe. Era um céptico que questionava o cristianismo, a noção de pátria e a sexualidade dominante. Publicou 154 poemas (não tendo publicado nenhum livro em vida, salvo 2 pequenos opúsculos). em 1953 saiu o livro póstumo, que reunia os poemas que distribuía em folhas soltas. Deixou ainda muitos inéditos ou em esboço, inacabados.



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