25 novembro 2008

QUARTAS MALDITAS - CAFÉS DA MINHA PREGUIÇA

Amanhã (dia 26 Novembro), 22 h - Clube Literário do Porto

Mais uma sessão das Quartas MalDitas.
Tema: Cafés da minha preguiça (poesia de café, sobre cafés e afins)
Convidados: Manuel António Pina (poeta); Álvaro Magalhães (poeta); Tomás Magalhães Carneiro (editor da revista UM CAFÉ)


Poemas ditos pelo coordenador (Anthero Monteiro), pelos residentes habituais (António Pinheiro, Isabel Marcolino, Luís Carvalho, Mário Vale Lima, Marta Tormenta, Rafael Tormenta) e ainda por A. Pedro Ribeiro, e pelos convidados.

Como sempre poesia, animação e conversa com entrada gratuita.
Para saberem onde fica o local, morada e contacto telefónico, clicar AQUI

20 novembro 2008

TURISMO


Visitar este país
até à última gota:
O porco e o Porto
A bola e a bolota
O que é como quem diz
itinerar a derrota

Tudo tem lugar no mapa
Paris, Washington, Moscovo
Em Itália vê-se o Papa
Em Lisboa vê-se o povo.

Welcome, Bienvenus,
Salud, Willkommen,
Viva

A sífilis saúda-vos
saúda-vos a estiva
desta carga de heróis
em carne viva

nociva mas barata
vindes matar a sede com uva
beber o sumo de ócio
que nos mata


Desemborcais nos cais
Desembolsais de mais
mas não sabeis
as coisas viscerais
as coisas principais
deste país azul
com mais hotéis do que hospitais
talvez por ser ao sol
talvez por ser ao sul.

Aqui ao pé do mar
bordamos a tristeza

as toalhas de mão
as toalhas de mesa
que levais para casa
Souvenir
deste povo sem pão
que se cose a sorrir.

Aqui ao pé do rio
gememos a saudade

nosso fado submisso
nossa água a correr.
Canção de mal devir
Souvenir Souvenir
deste povo de trégua
que se canta a morrer.

Aqui ao pé do vento
forjamos o lamento

dum país que se vende
a peso nos prospectos

tanto de sol ardente
tanto de cal fervente
e uma nódoa de céu
nos xailes pretos.


Aqui ao pé do fel
gritamos o segredo

do que parece fácil
neste país de luz:

é apenas a fome.
É apenas o medo.
É apenas o sangue.
É apenas o pus.




José Carlos Ary dos Santos
.
Fotografia: praia algarvia por Steve Woods (Colchester, Reino Unido)

11 novembro 2008

POESIA - ONDA POÉTICA Nº118

13 Novembro (Quinta), 21.30 h
Sala das sessões da Junta de Freguesia de Espinho


Onda Poética
(sessão nº118)
Subordinada ao tema
Sortilégios da Noite.


Música a cargo do grupo de baladas Nostalgia.

Para ver morada e contactos da Junta, clicar AQUI
Para ver localização na cidade de Espinho,. clicar AQUI
Para ver horários dos comboios para Espinho a partir do Porto ou Aveiro, clicar AQUI
.
Apareçam se puderem. Serão bem recebidos.

03 novembro 2008

PORTUGAL


Portugal
Eu tenho vinte e dois anos
e tu às vezes fazes-me sentir
como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião
fosse combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença
que lhe atacava os órgãos genitais,
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira,
que o Infante D. Henrique
foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira
uma reles imitação do Príncipe Valente

Portugal
Não imaginas o tesão que sinto
quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer
que nos espera um futuro de rosas...

Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos
a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso
sem lograr encontrar uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador

Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir

Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce
ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros
para poder espremer à minha vontade

Portugal
Estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete,
Salazar estava no poder
nada de ressentimentos
O meu irmão esteve na guerra, tenho amigos que emigraram
nada de ressentimentos
um dia bebi vinagre
nada de ressentimentos

Portugal
depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado
na piscina municipal de Braga
ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional
Que fôssemos todos a Ceuta
à procura do olho que Camões lá deixou

Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe

Portugal
gostava de te beijar muito
apaixonadamente
na boca...



Jorge de Sousa Braga
.
(poeta e tradutor que já tive o prazer de conhecer nas sessões mensais que levamos a cabo às Quartas MalDitas)

Contador Grátis Visitas desde 15/01/11