28 dezembro 2011

EPÍLOGO

Estas páginas foram escritas a caminhar sobre a água, e só assim se podem ler. Não procurei nada, não retive nada. Limitei-me a acusar o choque — brutal, por vezes — de um grão de pólen ou de uma brisa inesperada.

Não conheço outro ritmo que não seja o das estações. Outra música que não a das gotas de chuva nos limoeiros. Outra fuga que não a de um pássaro assustado com a sua própria sombra.

No fundo, o que me recuso a acreditar é que estejamos condenados. Apesar dos prados envenenados, da lenta agonia dos rios e do mar. Da atmosfera cada vez mais carregada das cidades. Contanto que a poesia seja — continue a ser —

um lugar
onde ainda se pode
respirar


Jorge de Sousa Braga

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