Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar o teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua, ri,
porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos vão,
quando voltam os meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda
7 comentários:
Mudanças......
risos nerudianos... nunca nos tirem
este canto está mais risonho.
a qualidade mantém-se....
Amigo, parabéns.
Haja sempre Pão para partilhar
Que o Ar agite a Rosa
E a Lança converta a Água em Alegria
Porque na Vida... na vida aqueço o Meu Sangue
Ri! Como Cascata de Espuma na Primavera
Jardins em Flor..Uma Flor Azul, uma Rosa.
Seja Noite ou Dia, há-de sempre brilhar a Lua..
E no Ar a Luz fará com que seja sempre Primavera.
Há-de haver sempre riso e pózinhos de perlimpimpim
Dal,
Umas vezes ri-se, outras vezes chora-se. E depois, tantas outras vezes, chora-se como forma de rir, e ri-se como forma de chorar....
Pozinhos de perlimpim...
Isso, começa a ser muito, tanto, cada vez mais raro... preciosos, como diamantes...
lindo, lindo lindo...
já sabes que é o meu preferido!
:-)
Neruda, sempre!
CSD
Este espaço está muito bom. E também acho que anda por aí um beirão que precisa de pôr cá fora mais vezes a poesia que traz dentro do coração! - RAFAEL TORMENTA
Rafael,
Como sempre, eis que apareces vindo do nada a colocar o dedo na ferida. Gracias, amigo.
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