10 novembro 2007

AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa
Nota: Bem sei, outro cliché, mas não resisti neste momento particular.

3 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

Lindo!

O coração é feito de malaguetas? Deve arder...


:-D

Luis Beirão disse...

eh eh, tinha uma com framboesas... mas esta era melhor, esta mais espalhada... aos pedaços...

Dalaila disse...

O comboio de corda, que ás vezes não roda não....


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