12 setembro 2007

OS POETAS


Nunca os vistes,
Sentados nos cafés que há na cidade,
Um livro aberto sobre a mesa e tristes,
Incógnitos, sem oiro e sem idade?


Com magros dedos, coroando a fronte,
Sugerem o nostálgico sentido
De quem rasgasse um pouco de horizonte
Proibido...


Fingem de reis da Terra e do Oceano
(E filhos são legítimos do vício!)
Tudo o que neles nos pareça humano
É fogo de artifício.


Por vezes fecham-lhes as portas
- Ódio que a nada se resume -
Voltam depois, a horas mortas,
Sem um queixume.


E mostram sempre novos laivos
De poesia em seu olhar...


Adolescentes! Afastai-vos
Quando algum deles vos fitar!



Pedro Homem de Mello

6 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito do poema. Realmente há sempre uma nostalgia/melancolia no olhar do poeta... Talvez porque a dor inspire.

Beijinhos

Dalaila disse...

E cada um de nós há sempre um lado de poeta, em cada poeta há sempre um lado real, então quando a escrita se cruza no horizonte da vida, as palavras passam a ser o encontro das mágoas e das nostalgias, cruzemos a linha do infinito e passemos todos a ser fogo de artificio e humanos e encontremo-nos nos cafés a escrever a pensar e a gargalhar.
:)beijo

Luis Beirão disse...

Vera, no olhar de todos nós, no olhar de todos nós...

Luis Beirão disse...

Dalila,

A solidão (não a intencional, mas aquela escondida), como diria um poeta cujo nome não me ocorre agora, fere como um gume aguçado de uma espada...mas penetrando lentamente. Por isso, encontremo-nos, pensemos e gargalhemos com quem nos é querido, e tentemos ultrapassar os oceanos que fazem de nós ilhas...

Claudia Sousa Dias disse...

Quanta sensualidade e volúpia escondida nas entrelinhas...

...e lascívia, sobretudo, daquele olhar de quem fita, guloso, a formas tenras do adolescente...

A fazer lembrar o filme de Visconti "Morte em Veneza"...

CSD

Luis Beirão disse...

Cláudia,

Será evidente que essa é uma das interpretações possíveis. Não é a única, no entanto, pois será também (a meu ver) a noção de que os poetas "desviam" os adolescentes para "maus caminhos", no sentido poético do termo e não apenas nesse...

O Thomas Mann é, evidentemente, uam boa referência, nesse caso na versão cinematográfica do Visconti.


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