20 setembro 2007

LUGAR NENHUM



Chamaste-me
e eu chamei-te.
Encontrámo-nos os dois,
na meia-luz
e à meia-distância,
no ponto onde a luz não era luz
e as trevas não eram trevas,
mas tudo era luztrevas,
no ponto onde nada era tudo
e tudo era nada,
e não havia tudo nem nada.
No ponto enfim,
onde eu não era eu
e tu não eras tu,
mas eu era tu
e tu eras eu...

Ali ficámos, suspensos no tempo,
em sublime e mútua adoração.
Chegado a este ponto,
contar-vos- ia, talvez, a minha história,
acaso houvesse história
para contar.
Mas é difícil existir história
quando não há princípio nem fim,
e quando o fim é o princípio
e o princípio é o fim
e entre ambos, princípio e fim,
nada mais existe senão o
fim e o princípio deles próprios...
Na verdade, nunca existimos,
ali naquele lugar sem nome,
até ao momento em que, cruelmente,
fomos arrastados de volta a nós mesmos.
Saímos. Saí.
E de fora, não vislumbrava mais
a porta de entrada,
nem conseguia situar o local,
recuperados que estavam os meus conceitos geográficos.
Conclui, pois, que o local não cabia
na Geografia...
Tentei depois, uma vez mais, regressar,
até acabar por entender
que não era a mim que cabia
a escolha do tempo ou do lugar,
mas eram eles que me escolhiam.
Vinham, sem anúncio prévio
ou aviso preparatório,
envolver-me nos seus braços.
Geralmente quando,
incauto e descuidado,
me tivesse esquecido

da imensidade das coisas
que não controlo...



Luis Beirão

10 comentários:

Dalaila disse...

Terá sido a pedido de muitas famílias?

Já tinha saudades das tuas palavras!

Esse lugar nenhum,
é um lugar nada comum,
é o lugar do tudo,
é o lugar que a ampulheta não roda,
é o lugar do nada,
e em tudo nada,
essa luz
era também a de quem a viveu,
era a história com história, e sem ela,
era uma verdade nesse lugar,
era um lugar com história,
quem precisa de principio
se o fim também lá não está,
queremos é história,
quremos
é o sítio,
queremos a luz
queremos o tempo que nos cabe.

Muito bom Luis! Parabéns.

Anónimo disse...

Não conhecia este poema. Desculpa a ignorância. É muito bonito, mesmo.
Um beijo
L.D.

Luis Beirão disse...

Obrigado Dalaila, é já antigo, mas pronto, o que conta é a intenção e, apesar de tudo, gosto dele.

Luis Beirão disse...

L.D.,

Nunca publicitei muito este poema aqui, daí nunca o teres lido ou ouvido. Gostei que te tivesses lembrado de passar por aqui...

Unknown disse...

Luís adorei o poema!
Adorei conhecer a tua poesia. Mostra um pouco (tanto) de ti e gostei imenso do que deste a conhecer.

Beijo

Luis Beirão disse...

Vera,

Muito obrigado pelas tuas palavras. No entanto, a minha poesia e eu, apesar de com relações óbvias, somo entidades diversas, pois movemo-nos em planos diferentes. Gostava por vezes que a relação fosse mais linear e directa (é esse o meu esforço), infelizmente a minha poesia (considero) está muitas vezes acima de mim, pobre ser humano sujeito que estou a falhas e incoerências...

Anónimo disse...

Olá Luis,

Recebi uma mensagem do hi5 de uma amiga comum para vir cá:) Gostei muito das tuas palavras, espero que continues a escrever. Não tenho dúvidas que podes ir longe.

Se andares por lisboa no proximo fim de semana, não hesites e aparece no lançamento do meu livro.

www.tiagonene.pt.vu

abraço

Tiago Nené

Luis Beirão disse...

Tiago,

Muito obrigado pelo encorajamento. Infelizmente, não estarei em Lisboa (vou lá algumas vezes, aliás tenho muita família lá, mas não tantas assim). Certamente que se estivesse apareceria. Desejo-te, contudo, boa sorte. Abraço.

Ana Ferreira disse...

O que é que eu hei-de dizer...
GOSTO,
Gosto muito!
Profundo, transparente
sublime, com muita chama
Com intensidade adequada,
Sentimos que voamos
que nos deixamos levar
por um encontro
que chega
que parte
que envolve
que prende
que nos deixa
libertar a alma
És autêntico..
Revelas transparência e força!
Beijos
Muito bem!

Luis Beirão disse...

Ana,

Como sempre, obrigado pelas tuas palavras e encorajamento.


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