25 abril 2017

PARA QUE TU, LIBERDADE


Cresci a sonhar contigo, tu sabes,
com a pressa ansiosa dos amantes,
todo os dias, sem descanso ou desalento,
imaginando a claridade do teu olhar sereno,
o rumor da tua voz marinha,
o embalo de onda do teu sono de menina.
Um dia chegaste e ergueste a tua casa
na mansa vizinhança dos meus sonhos,
paredes meias com o esplendor dos cravos.
Partilhei contigo o alpendre das estrelas
onde os meus filhos brincaram e cresceram,
onde eu brinquei com os búzios e as sombras
e te prometi fidelidade eterna,
como no fogo das paixões maiores.
Ambos envelhecemos desde então,
dorso arqueado pelo peso
do mais amargo desencanto,
sem renunciarmos à felicidade
que um dia prometemos um ao outro.
Fomos nós que envelhecemos 
ou foi a alegria que se exilou do nosso olhar ?
Foi Abril que perdeu o fulgor primordial
ou fomos nós que deixámos de o merecer,
luz fugidia a escapar por entre os dedos ?
Amanhã acordarás numa cama de pétalas,
imitando a límpida música das fontes,
e eu estarei contigo, como quem renasce,
para que tu, Liberdade, não morras nunca
de tristeza ou abandono nos meus sonhos.


José Jorge Letria

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