O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da
insatisfação
o peso,
o peso que carregamos
é o amor.
Quem o pode negar?
Em sonhos,
toca-nos
o corpo,
em pensamentos
constrói
o milagre,
na imaginação
angustia-se
até nascer
humano
- sai para fora do
coração
ardendo com pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o
peso
fatigados
e assim precisamos de
descansar
nos braços do amor
finalmente,
precisamos de descansar nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor -
quer eu esteja louco ou
com frio,
obcecado por anjos
ou máquinas,
o último desejo
é o amor
- não pode ser amargo,
não pode negar,
não pode ser contido
se negado:
o fardo é demasiado
pesado
- é preciso dar
para nada retornar
como pensamentos
dados
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão move-se
para o centro
da carne,
a mão treme
de felicidade
e a alma sobe
feliz até aos olhos -
sim, sim,
era o que
eu queria,
o que eu sempre quis,
o que eu sempre quis,
regressar
ao corpo
onde nasci.
Allen Ginsberg
(tradução da minha autoria, for english version click HERE)
Imagem: Estátua "O beijo" do escultor romeno Constatin Brancusi (1908)
Nota: Nascido
em Newark, New Jersey a 3 Junho 1926, Ginsberg foi um poeta americano
da geração beat, que serviu
de inspiração para a personagem Alvah dos
“Vagabundos
da Verdade” de
Jack Kerouac. Foi uma criança complicada assombrada pela paranóia
da sua mãe. Na escola secundária, encanta-se com a obra Walt
Whitman, embora acabe por cursar Direito na Univerdade de Columbia
onde faz amizade com um grupo de jovens insubmissos (entre os quais
Lucien Carr e Kerouac), interessados em drogas, sexo e literatura.
Ginsberg acreditava que seguiam em direcção a uma grande visão
poética, que ele e Kerouac chamavam New
Vision.
Experimentou anfetaminas e canábis e começou a frequentar bares
gay, iniciando um relacionamento com Neal Cassady, que vistava em
Denver e S. Francisco. Assumindo um estilo de vida bizarro, aos 29
anos, já tinha escrito muita poesia, mas quase nada publicado.
Ganhou popularidade a partir de 55 com o seu poema “Uivo”
(considerado por muitos, obsceno e pornográfico). Foi o livro de
poesia mais vendido da história dos EUA, ultrapassando um milhão de
exemplares, seguido por vários outros poemas importantes. Ginsberg
viaja pelo mundo, descobre o budismo e apaixona-se por Peter Orlovsky
(seu companheiro pelo resto de vida, embora a relação não fosse
exclusiva). No
início dos anos 1960, enquanto sua celebridade crescia, Ginsberg
lança-se na cena hippie, ajuda Timothy Leary a divulgar o LSD e
participa em muitos eventos (ex: o “Human
Be-In”,
S. Francisco, 1967). Foi também figura-chave nos protestos contra a
guerra no Vietname, em 1968. Após conhecer o lama tibetano Trungpa
Rinpoché, aceita-o como seu guru pessoal e com a poeta Anne Waldman,
cria uma escola de poesia. Participando sempre em eventos
multiculturais até à sua morte a 5 Abril 1997, entre seus maiores
admiradores, estavam os múiscos Jim Morrison (The
Doors),
os The Clash e
os The Cult
por exemplo. Foi um dos expoentes do movimento beat,
grupo de autores que trabalhavam com poesia, prosa e consciência
cultural. A sua escrita oscilava entre o mantra e o sexo explícito,
o sagrado e o profano, o espiritual e o material. Transitava entre
dois mundos: o da marginalidade e o da cultura erudita. A utopia de
Ginsberg era a de uma sociedade harmoniosa, onde coubessem os loucos
e todos os contextos estranhos.
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