Martelam-me
ainda a cabeça
todos
esses grandes pequenos projectos
que
nunca abracei
e já me revolvem a mente
todos
esses pequenos grandes projectos
que
eventualmente
virei
a abraçar
hesito
entre a terra
e
a imensidão do céu
águia
adiada
mas
planta inútil mera trepadeira
doí-me
o coração
pelos
voos que não fiz
e
pelas raízes que não consolidei
pelas
energias que não drenei
e
pelas alturas que nunca alcancei
em
todo o caso forço-me a ser
de
qualquer modo
o
que não sou
fica
sempre a saudade
do
que sou agora
é
dessa matéria que de facto sou feito
uma
saudade opressora
permanente
por
antecipação
saudade
da terra onde agora bebo
e
do horizonte onde me perco
e
saudade de ambos
e
saudade de tudo
ao
fim e ao cabo
do
que fui
do
que sou
do
que serei
há
que despir-me de mim
para
poder ser eu
e
é esse talvez o maior dilema
trocar
de corpo
a
cada mutação
sou
e
já tenho saudades do que sou
já
me vou despedindo de mim
numa
permanente nostalgia
e por isso não quero deitar-me
e por isso não quero deitar-me
pois
sei que pela manhã
já
não existirei
mas
acabarei por deitar-me
forçosamente
por
isso me despeço
com
estas palavras
gravadas assim na memória do tempo
na
certeza porém
de
que ao amanhecer
olharei
estas frases
como
as de um estranho
e
sobre elas verterei lágrimas
cheio
de saudades de mim...
Luís Beirão
2 comentários:
Afastas-te do eu para a ti regressares. very good!
o conceito de saudade por antecipação sempre foi muito interessante, é um pouco à volta disso...
uma das diferenças entre lembrança e saudade é que a última não se limita a beber no passado, reflecte-se no presente e determina o futuro, esse aspecto sempre se me afigurou como interessante...
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