08 janeiro 2008

ABDICAÇÃO


Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços
.
Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
.
Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia...
.
.
Fernando Pessoa
.
.
.
Nota: mais um bem conhecido, mas nem por isso menos pertinente, do Pessoa. Porque sim. Num primeiro nível, porque bastas são as vezes em que apetece abdicar, regressar "à noite antiga e calma". Finalmente, e a outro nível, há vezes em que se deve mesmo saber abdicar, pois sem algum despojamento em relação ao nosso trono, ao ceptro e à espada, nunca seremos mais do que tronoceptroespada, e nada mais nos restará se um dia os viermos a perder.

4 comentários:

Dalaila disse...

toma-me com os braços bem abertos....

Luis Beirão disse...

Dal,

Pois a mim já me tomou. E tem-me tomado, e bem... cada um com a sua sina.

Claudia Sousa Dias disse...

uUma visão muito budista da realidade, esse despreendimente de que falas...

Quando precisares de desabafar liga ou envia um mail...

Beijo


CSD

Luis Beirão disse...

Cláudia,

Em breve falaremos (espero).
A sessão é Quarta dia 16, sim (respondendo ao teu outro comment).


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