agora só tenho braços
para cruzar perante o irremediável
ou segurar esta ânsia de chão
que me comprime a nuca
souberam guardar tesouros imperecíveis
velar o sorriso por dentro do teu sono
e a nebulosa que te faz sonhar
julgaram preservar dos cardos
a seda do teu suave existir
empreenderam mil lances de aventura
detiveram o emurchecer das tardes
ansiaram a enseada do teu peito
foram escrínios de algum sibarita
lianas trepadeiras e gavinhas
apetecidos tentáculos
deles voaram aves peregrinas
como dos bolsos dos ilusionistas
fizeram brotar fontes em lugares
secretos do teu corpo ou da tua alma
ambos donos do mesmo lago
ambos perdidos na mesma água
esbracejámos na aflição do prazer
para mais depressa soçobrarmos
de que servem agora
os braços e estas mãos e estes dedos
e quem foi dono deles e sonhou
de ti ser dono ao menos uma tarde
uma efémera tarde como quando
julguei possuir o mar e a eternidade
só por ter nos meus braços os teus braços?
O mar que me cuspiu nos olhos míopes
não quer ser possuído mas possuir-me
e a eternidade lenta e paciente
já me exige o meu corpo mutilado
dos braços
dos abraços
e de ti...
.
.
Anthero Monteiro
.
Nota: Há já muito tempo que se justificavaa inclusão, neste blogue, de um poema deste poeta e caro amigo. Um abraço!
9 comentários:
Hello!!
Desculpa a intrusão aqui no teu espaço pessoal... mas não resisti! ;)
Este poema é fabuloso!
Obrigado por me "apresentares" este poeta encantador.
Acabei de ler mais alguns textos dele e adorei!!
Jinhos
<^_^>
**********Dulce**********
Gostei muito do Anthero Monteiro...apresentas-mo?
AGB
Dulce, AGB:
O Anthero é coordenador da Onda Poética em Espinho e das Quartas MalDitas, sessões das quais já tenho falado aqui. Deu aulas de português muitos anos, e já publicou uma série de livros, entre eles e como curiosidade, poesia para crianças. Apresento-o com todo o gosto.
Já fazia falta, sim...
Que saudades da Onda Poética...ou dos serões no Púcaro's após o toque da sineta e a finalizar com o querido Axznavousr e "La bohème"...
CSD
Cláudia,
És sempre em vinda! Não digo todas as vezes, mas se realmente tens saudades, apita e a gente arrajna solução para apareceres.
De vez em quando espreito-te...
Tenho saudades de te ouvir declamar, mas não tem dado para aparecer.
Gostava de ler, para recordar, aquele poema que o Anthero e tu diziam, com montes de génio e de piada - não me lembro do nome...
Por que não o publicas aqui?
Um abraço,
Rosa
Olá Rosa!
Que poema em concreto?
Este poema do Anthero, a tua voz, as tuas mãos e o piano são uma tempestade...
Um abraço,
Rosa
Quanto ao poema que tu e o Anthero declamavam no Púcaros, não recordo o nome.
Quando me ocorrer digo-te.
Abraço,
Rosa
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