17 agosto 2007

RECORDAÇÃO


Eu bem sei
Que rodo em muitas esferas
E não sei
Por onde me levas, poesia.
Quando vou,
E não encontro ninguém,
Tenho medo do que sei:
Um filho de sua mãe
E seu pai,
Ou algum longínquo avó,
A quem um poeta sai.
Será também o Deus da infância
E a árvore sagrada
De frutos proibidos,
Na fragrância
Com que rasguei meus vestidos
E não retirei os ninhos...


Enchi de rosas a terra
E levo nas mãos espinhos...!


Afonso Duarte

4 comentários:

Dalaila disse...

Roda, rodopia, rebola na vida, como nas letras, nas flores, até nos espinhos para que se tornem lanças para os frutos os proíbidos ou não.

Bom regresso! Eu cá me vou a caminho de outros faróis e do meu vento cada vez mais a norte, para rasgar as minhas janelas.

Gil disse...

e quem é este Afonso Duarte que escreve assim umas coisas tão bonitas???

Luis Beirão disse...

Gil, um apanhado (resumido):

Estudou Ciências Físico-Naturais na Universidade de Coimbra, cidade onde veio a ser professor. Colaborou em várias revistas (Presença, Revista de Portugal, Seara Nova), tendo colaborado em A Águia e sido fundador e director da Rajada.
A sua poesia, predominantemente de inspiração popular, inicialmente ligada ao saudosismo, não se fixou em nenhuma escola literária, acompanhando poetas de diversos movimentos e renovando-se permanentemente. Considerado um poeta original na lírica portuguesa do século XX, escreveu Cancioneiro das Pedras (1912), Tragédia do Sol-Posto (1914), Rapsódia do Sol-Nado, Seguida do Ritual do Amor (1916), Os Sete Poemas Líricos (1929), Ossadas (1947), Canto de Babilónia (1952), Obra Poética (1956, inclui a obra O Anjo da Morte), Lápides e Outros Poemas (1960) e Obras Completas (1974) - póstumas. Morreu em 1958.

Luis Beirão disse...

Dalila,

Distraído pela pergunta, nunca te cheguei a agradecer este comentário. Mais vale tarde que nunca!

Bjs


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