Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
3 comentários:
Que nostálgico! Gosto particularmente desta parte:
"Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados".
Os sonhos tresmalhados davam pano para mangas!
Seja como for, não conhecia. Obrigada, Luís.
Sim, de facto essa parte é muito bonita. Sobretudo "o milagre de cada dia, escorrendo pelos telhados". Ainda bem que gostas...
Esqueci de assinar da última vez. Já que não posso voltar atrás aqui rectifico a falha aproveitando para acrescentar que a última parte
"...e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços", faz-me lembrar "aquela" Lídia. Se calhar, todo ele faz...
Um beijo
L.D.
Enviar um comentário