26 junho 2007

OS AMANTES SEM DINHEIRO


Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Eugénio de Andrade

3 comentários:

Anónimo disse...

Que nostálgico! Gosto particularmente desta parte:
"Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados".
Os sonhos tresmalhados davam pano para mangas!
Seja como for, não conhecia. Obrigada, Luís.

Luis Beirão disse...

Sim, de facto essa parte é muito bonita. Sobretudo "o milagre de cada dia, escorrendo pelos telhados". Ainda bem que gostas...

Anónimo disse...

Esqueci de assinar da última vez. Já que não posso voltar atrás aqui rectifico a falha aproveitando para acrescentar que a última parte
"...e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços", faz-me lembrar "aquela" Lídia. Se calhar, todo ele faz...
Um beijo
L.D.


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