29 outubro 2016

INFÂNCIA



Sonhos
enormes como cedros
que é preciso
trazer de longe
aos ombros
para achar
no inverno da memória
este rumor
de lume:
o teu perfume,
lenha
da melancolia.


Carlos de Oliveira


Nota: Nascido em Belém do Pará (Brasil), a 10 de Agosto 1921 e falecido em Lisboa a 1 de Julho 1981, com 59 anos, filho de imigrantes portugueses, veio aos dois anos para Portugal. A família fixou-se em Cantanhede, na vila de Febres, onde o pai era médico. Em 1933 (12 anos) muda-se para Coimbra, onde continua os estudos. Em 1941 (20 anos) ingressa na Faculdade de Letras, onde estabelece amizade com Joaquim Namorado, João Cochofel e Fernando Namora. Em 1947 licencia-se em Ciências Histórico-Filosóficas, instalando-se em Lisboa, no ano seguinte. O seu primeiro livro de poemas é de 1942, intitulado "Turismo", com ilustrações de Fernando Namora, na colecção poética de 10 volumes do "Novo Cancioneiro", iniciativa colectiva que, em Coimbra, assinalava o advento do movimento neo-realista. As consequências políticas do trabalho de reconstrução cultural que o movimento exprimia, tornaram-se inaceitáveis pelo regime. Num documento não assinado mas possivelmente da autoria de Namora, afirma-se: «O grupo presencista (…) já não podia corresponder de modo nenhum às inquietações do presente. Os problemas sociais, do homem integrado na colectividade, o problema do homem em competição com a sociedade capitalista, atingiam uma agudeza progressiva (…) O homem da rua, o homem sem aqueles abismos psicológicos que saturavam a literatura da época, já não aceitava o fatalismo das desventuras e injustiças sociais. Começava a tomar consciência dos seus direitos e da sua força para os fazer cumprir. A literatura não podia desconhecê-lo por mais tempo. E foi assim que surgiu um novo realismo». Em 1949 (28 anos) casa-se com Ângela, jovem madeirense que conhecera na Faculdade.. Em 1953 (32 anos) publica “Uma Abelha na Chuva”, o seu quarto romance, unanimemente reconhecido uma das mais importantes obras da literatura portuguesa do sec.XX, e integrado no programa de português no secundário. Periodicamente volta a Coimbra e à zona da Gândara, fonte de inspiração para a sua escrita. Colaborou também com a Seara Nova, um dos grupos mais activos no combate ideológico contra o salazarismo, com papel central na reflexão e crítica até ao 25 de Abril, mas manteve sempre grande independência e originalidade em relação ao grupo neo-realista. O seu último romance, "Finisterra", sai em 1978 (57 anos), tendo como fundo a paisagem gandaresa. Morre na sua casa, em Lisboa, 3 anos depois.

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