19 setembro 2016

O ALBATROZ

Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

À peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher.


Charles Baudelaire

 
Nota: Nascido em Paris a 9 Abril 1821 e falecido na mesma cidade com 46 anos (31 Agosto 1867), Baudelaire foi um dos precursores do simbolismo e, a par de Walt Whitman é hoje reconhecido como um dos iniciadores da poesia moderna. Fez os estudos liceais na mesma cidade e com 19 anos, para corrigir a sua vida desregrada, o padrasto mandou-o para a Índia, mas acabou por ficar pela ilha da Reunião. Regressado a Paris, continuou a levar uma vida de álcool e droga com a sua companheira a actriz e dançarina haitiana Jeanne Duval. Pela intervenção da mãe num tribunal, a herança do seu pai passa a ser-lhe controlada por um notário. Em 1857, com 36 anos, lança "As Flores do Mal". Acusado de ultraje à moral pública, os exemplares são apreendidos. Corrigindo os 6 poemas que causavam polémica, tenta ingressar na Academia Francesa. Numa visita à Bélgica, tinha conhecido Félicien Rops, ilustrador do seu livro. Na visita a uma igreja em Namur, Baudelaire perde a consciência e sofre alterações cerebrais (afasia, perturbação na compreensão e formulação da linguagem). Chega a ter uma das metades do corpo paralisada. Morreu de sífilis, muito antes de ser famoso. Deixo aqui a tradução do poema acima da autoria de Delfim Guimarães:

Às vezes no alto mar, distrai-se a marinhagem
Na caça do albatroz, ave enorme e voraz,
Que segue pelo azul a embarcação em viagem,
Num vôo triunfal, numa carreira audaz. 


Mas quando o albatroz se vê preso, estendido

Nas tábuas do convés, — pobre rei destronado!

Que pena que ele faz, humilde e constrangido,

As asas imperiais caídas para o lado! 

Dominador do espaço, eis perdido o seu nimbo!

Era grande e gentil, ei-lo o grotesco verme!...

Chega-lhe um ao bico o fogo do cachimbo,

Mutila um outro a pata ao voador inerme. 

O Poeta é semelhante a essa águia marinha

Que desdenha da seta, e afronta os vendavais;

Exilado na terra, entre a plebe escarninha,

Não o deixam andar as asas colossais! 

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