a tua ausência é, em cada momento, a tua ausência.
não esqueço que os teus lábios existem longe de mim.
aqui há casas vazias. há cidades desertas. há lugares.
mas eu lembro que o tempo é outra coisa, e tenho
tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.
aqui não há palavras. há a tua ausência. há o medo sem os
teus lábios, sem os teus cabelos. fecho os olhos para te ver
e para não chorar.
José Luís Peixoto
Fotografia: Michael Zimmermann, Berlim (Alemanha)
Nota sobre o poeta: Nasceu em Galveias (Portalegre) em 4 de Setembro de 1974. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Nova (Lisboa). Trabalhou como professor em Praia (Cabo Verde) e em várias cidades de Portugal. Publica poesia, prosa e tem escrito peças de teatro. Recebeu vários prémios pela sua obra: Prémio Jovens Criadores (Literatura) em 1997, 98 e 2000 e Prémio Literário José Saramago em 2001. A cidade de Ponte de Sôr criou um prémio para jovens autores com o seu nome. Para mais informações, clicar por exemplo AQUI
12 comentários:
o ruim é que vemos a perda como algo que nos é arrancado a força... mas a perda é o inicio de algo novo, de algo a ser preenchido na nossa vida!
bjosss!!!
Olá Su,
Será assim, certamente.
Mas sem sofrermos a perda o "algo novo" se calhar também não pode nunca nascer...
Bjs,
Luis
"veríssimo".
bjo
csd
...outra forma de naufragar...não, não é bem isso...perda, ausência...qual delas a pior...uma definitiva, outra podendo-o ser também... mas afundando numa espécie de marasmo...que leva ao mesmo fim...desta forma...será a ausência o pior...ui!
Olá,
Agrada-me a caracterização do vazio enquanto algo palpável, que existe... e agrada-me sobretudo o facto de em vez de "medo" ser "lembrança de perder tudo", que dá às palavras todo um novo significado.
Bjs,
Luis
Pois... o vazio existe... o medo é uma fugaz forma de antecipar...o medo... chega a todos...a todos...
...mesmo em forma de lembrança de perder tudo...
Olá novamente,
É que se o autor tivesse escrito simplesmente "medo" seria algo a remeter para o futuro... Mas "lembrança" proporciona interpretação riquíssima: remete para o passado, ou seja, "recordação de perder tudo", mas ao mesmo tempo para o futuro (e aqui, seria mais "lembrança" no sentido de lembrete ou post it).
A riqueza interpretacional pode abarcar a conjugação das duas hipóteses: a "lembrança" de perder tudo faz ter sempre presente a "lembrança" de tudo perder.
Bjs,
Luis
( entendo :):)
qualquer coisa como...
...remeter o tempo para um espaço que talvez só o autor domine...um lembrete...contraditoriamente intemporal e presente...
é realmente uma frase fantástica...abrangente, de forte mensagem.
Olá!
Sim, seria (na minha opinião) mais ou menos isso.
Bjs,
Luis
Acho que simplifaria se se dissesse que o medo é acerca do presente e de um futuro previsivel mas ainda incerto e a lembrança é de algo que já se perdeu definitivamente mas que se quer continuar a lembrar.
Talvez seja simplificação minha.
Um beijo
Luísa
Olá Luísa,
De facto essa simplificação: medo - futuro; lembrança - passado é, na minha opinião aplicável. Mas o uso de "lembrança" em vez de "recordação" (que poderia igualmente ser usada com o mesmo efeito de passado), produz uma mescla interessante de vários tempos verbais, e é isso que acho interessante.
Por exemplo: a lembrança (facto presente) de ter perdido tudo (facto passado), pode conduzir a um receio (facto presente) de vir a perder tudo (facto futuro), receio esse que pode provocar a efectiva perca de tudo (facto presente).
Bjs,
Luis
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