05 junho 2009

LEMBRANÇA DE PERDER TUDO - IV


a tua ausência é, em cada momento, a tua ausência.
não esqueço que os teus lábios existem longe de mim.
aqui há casas vazias. há cidades desertas. há lugares.

mas eu lembro que o tempo é outra coisa, e tenho
tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.

aqui não há palavras. há a tua ausência. há o medo sem os
teus lábios, sem os teus cabelos. fecho os olhos para te ver
e para não chorar.



José Luís Peixoto

Fotografia:
Michael Zimmermann, Berlim (Alemanha)


Nota sobre o poeta:
Nasceu em Galveias (Portalegre) em 4 de Setembro de 1974. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Nova (Lisboa).
Trabalhou como professor em Praia (Cabo Verde) e em várias cidades de Portugal. Publica poesia, prosa e tem escrito peças de teatro. Recebeu vários prémios pela sua obra: Prémio Jovens Criadores (Literatura) em 1997, 98 e 2000 e Prémio Literário José Saramago em 2001. A cidade de Ponte de Sôr criou um prémio para jovens autores com o seu nome.
Para mais informações, clicar por exemplo AQUI

12 comentários:

Su disse...

o ruim é que vemos a perda como algo que nos é arrancado a força... mas a perda é o inicio de algo novo, de algo a ser preenchido na nossa vida!

bjosss!!!

Luis Beirão disse...

Olá Su,

Será assim, certamente.
Mas sem sofrermos a perda o "algo novo" se calhar também não pode nunca nascer...

Bjs,
Luis

Claudia Sousa Dias disse...

"veríssimo".

bjo


csd

Anónimo disse...

...outra forma de naufragar...não, não é bem isso...perda, ausência...qual delas a pior...uma definitiva, outra podendo-o ser também... mas afundando numa espécie de marasmo...que leva ao mesmo fim...desta forma...será a ausência o pior...ui!

Luis Beirão disse...

Olá,

Agrada-me a caracterização do vazio enquanto algo palpável, que existe... e agrada-me sobretudo o facto de em vez de "medo" ser "lembrança de perder tudo", que dá às palavras todo um novo significado.

Bjs,
Luis

Anónimo disse...

Pois... o vazio existe... o medo é uma fugaz forma de antecipar...o medo... chega a todos...a todos...

Anónimo disse...

...mesmo em forma de lembrança de perder tudo...

Luis Beirão disse...

Olá novamente,

É que se o autor tivesse escrito simplesmente "medo" seria algo a remeter para o futuro... Mas "lembrança" proporciona interpretação riquíssima: remete para o passado, ou seja, "recordação de perder tudo", mas ao mesmo tempo para o futuro (e aqui, seria mais "lembrança" no sentido de lembrete ou post it).
A riqueza interpretacional pode abarcar a conjugação das duas hipóteses: a "lembrança" de perder tudo faz ter sempre presente a "lembrança" de tudo perder.

Bjs,
Luis

Anónimo disse...

( entendo :):)
qualquer coisa como...
...remeter o tempo para um espaço que talvez só o autor domine...um lembrete...contraditoriamente intemporal e presente...
é realmente uma frase fantástica...abrangente, de forte mensagem.

Luis Beirão disse...

Olá!

Sim, seria (na minha opinião) mais ou menos isso.

Bjs,
Luis

Anónimo disse...

Acho que simplifaria se se dissesse que o medo é acerca do presente e de um futuro previsivel mas ainda incerto e a lembrança é de algo que já se perdeu definitivamente mas que se quer continuar a lembrar.
Talvez seja simplificação minha.
Um beijo
Luísa

Luis Beirão disse...

Olá Luísa,

De facto essa simplificação: medo - futuro; lembrança - passado é, na minha opinião aplicável. Mas o uso de "lembrança" em vez de "recordação" (que poderia igualmente ser usada com o mesmo efeito de passado), produz uma mescla interessante de vários tempos verbais, e é isso que acho interessante.
Por exemplo: a lembrança (facto presente) de ter perdido tudo (facto passado), pode conduzir a um receio (facto presente) de vir a perder tudo (facto futuro), receio esse que pode provocar a efectiva perca de tudo (facto presente).

Bjs,
Luis


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