17 outubro 2008

O INFERNO


Debrucei-me à janela do inferno
e não vi nada que me horrorizasse;
pareceu-me um lugar igual aos outros,
cheio de gente e coisas. E alguém
do inferno me disse para entrar.
Não me lembro quem era ou se eram vários,
nem o que me disseram lá de dentro,
ou se essas pessoas sorririam,
se haveria alguém a lamentar-se
ou se desconfiei por um momento.
Fui e achei a porta do inferno,
abri a porta do inferno, entrei,
desde essa hora vivo no inferno.
É um lugar igual a qualquer outro,
cheio de gente e coisas. Todavia
sei que não pode ser senão o inferno
porque neste lugar não estás comigo.
.
.
.
Amalia Bautista
.
Imagem: Joël Dietlé (Estrasburgo, França)
(poema enviado por uma amiga a quem agradeço sinceramente a generosa partilha)
Sobre a autora: Nasceu em Madrid em 1962. Jornalista de formação, trabalhou como redactora no gabinete de imprensa do Conselho Superior de Investigações Científicas. Publicou diversos livros de poesia (o primeiro data de 1985), e podem-se encontrar poemas seus em diversas antologias.

3 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

estar só ás vezes não é o inferno...

cSD

Claudia Sousa Dias disse...

bem, desta vez é só um acento invertido.

(que não tem nada a ver com cadeiras)

CSD

Luis Beirão disse...

Tens razão Cláudia,

Absolutamente só não é o inferno.
Mas é o inferno quando se está em presença de uma "solidão acompanhada" (recordo a propósito, e porque de facto o meu encadeamento foi esse, o Joaquim Pessoa, no poema postado abaixo: ..."eu não estou só contigo, mas é contigo que eu quero ficar só"...).
Digo eu, claro :-).

Bjs,
Luis


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