Eu sei, não te conheço mas existes.
por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.
Não me perguntes como mas ainda me lembro
quando no outono cresceram no teu peito
duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos
e perfumaram depois a minha boca.
Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito
e desagua em ti,
porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável,
uma outra maneira de habitares
em todas as palavras do meu canto.
Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente
à tua procura, sempre à tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
porque é a ti,
a ti que eu amo.
Joaquim Pessoa
.
Sobre o autor: nasceu em 1948. Poeta, pintor e publicitário, colaborou na revista Vértice e no Suplemento Cultural do Diário de Lisboa. Inicialmente, a sua obra começou ligada à sua militância comunista e à revolução de Abril de 74. Os temas preferidos são o amor e a denúncia social. Foi Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com O Livro da Noite (1982).
2 comentários:
muito belo, sem spmbra de dúvida.
csd
...sem sombra, Claúdia ;-).
(menos a das cadeiras, claro está, eh eh)
Bjs,
Luis
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