27 junho 2008

CERVEJA


não sei quantas garrafas de cerveja consumi
enquanto esperava
que as coisas melhorassem
não sei quanto vinho e quanto whisky
e cerveja
sobretudo cerveja
consumi
após pedaços de mulheres
- à espera que o telefone tocasse
à espera do som dos passos,
e que o telefone tocasse
à espera do som dos passos,
e o telefone nunca toca
a não ser quando é demasiado tarde
e os passos nunca chegam
a não ser quando é demasiado tarde
quando o meu estômago está a subir
a sair pela minha boca
eles chegam frescos como flores primaveris:
"mas que merda fizeste contigo?
demorarão 3 dias até que me possas
dar uma queca novamente!"

a fêmea é durável
vive sete anos e meio mais que o macho
e bebe muito pouca cerveja
porque sabe que faz mal à figura.

e enquanto nós estamos a enlouquecer
elas saíram
e andam lá fora a dançar e a rir
com cowboys entesados.

pois bem, há cerveja...!
sacos e sacos de garrafas vazias
e quando apanhas um do chão
a garrafa cai através do fundo molhado
do saco de papel
rolando
fazendo barulho
entornando cinza molhada
cerveja fresca,
ou o saco cai às 4 da manhã
produzindo o único som da tua vida.

cerveja...
rios e mares de cerveja...
a rádio a passar canções de amor...
enquanto o telefone permanece silencioso
e as paredes permanecem direitas
de cima abaixo
de cima abaixo...

e cerveja...
cerveja é tudo o que resta.


Charles Bukowski

Nota: tradução livre da minha autoria, não completamente fiel ao original de forma deliberada. Algumas quebras de linha e repetições, bem como negritos e alguma pontuação da minha responsabilidade, de forma a facilitar a minha leitura pessoal. Deixo aqui o original, para os mais curiosos:

Beer

I don't know how many bottles of beer
I have consumed while waiting for things
to get better
I dont know how much wine and whisky
and beer
mostly beer
I have consumed after
splits with women-
waiting for the phone to ring
waiting for the sound of footsteps,
and the phone to ring
waiting for the sounds of footsteps,
and the phone never rings
until much later
and the footsteps never arrive
until much later
when my stomach is coming up
out of my mouth
they arrive as fresh as spring flowers:
"what the hell have you done to yourself?
it will be 3 days before you can fuck me!"

the female is durable
she lives seven and one half years longer
than the male, and she drinks very little beer
because she knows its bad for the figure.

while we are going mad
they are out
dancing and laughing
with horney cowboys.

well, there's beer
sacks and sacks of empty beer bottles
and when you pick one up
the bottle fall through the wet bottom
of the paper sack
rolling
clanking
spilling gray wet ash
and stale beer,
or the sacks fall over at 4 a.m.
in the morning
making the only sound in your life.

beer
rivers and seas of beer
the radio singing love songs
as the phone remains silent
and the walls stand
straight up and down
and beer is all there is.

7 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

Ai a cerveja...

Era loira ou morena? (a cerveja...eheheh!)

Beijo grande neste domingo cheio de tédio...

CSD

Luis Beirão disse...

Cláudia,

Isso, terias que perguntar ao Bukowski, eh eh. Mas enquanto alcóolico inveterado, suspeito que, para ele, era-lhe indiferente a cor da dita.
Acho interessante aqui é a cerveja (rios e mares dela), enquanto a rádio passa canções de amor... muito significativo, creio eu, para se entender o Bukowski.

Bjs,
Luis

Claudia Sousa Dias disse...

Dele ainda só li o célebre "Mulheres", uma galeria de beldades que ele tenta engolir como a cerveja...

:-)

Beijo grande

Luis Beirão disse...

Na verdade, Cláudia

Essa de "engolir" as mulheres, no Bukowski, não surpreende, eh eh. Mas sabes, muitas vezes com "mais olhos que barriga".... e ele mesmo admite.
Este poema (todo o imaginário da poesia dele de resto), mesmo parecendo demasiado cru, vulgar, feio (tudo na sua poesia: bebedeiras, frustrações, apostas de cavalos, sexo) tem mais que se lhe diga, na minha opinião. Perpassa nele, sobretudo, a angústia do indivíduo face ao mundo, e a sua solidão. Bem expressas num outro poema que tenho aqui (A Sós com Toda a Gente). Há no Bukowski um lado melancólico e solitário. Não me arriscaria a dizer bonito, mas pelo menos de significado mais profundo. Não no que está à rama, mas no que por baixo se descortina.

Bjs,
Luis

Dalaila disse...

e até ia uma, se o tempo aquecesse,

beijinhos

Luis Beirão disse...

Pois Dal,

O problema de facto (sobretudo hoje mesmo, por aqui está a chover) é esse: SE o tempo aquecesse.

Bjs

Claudia Sousa Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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