14 outubro 2015

AUSÊNCIA


 Nas horas do poente,
Os bronzes sonolentos,
- pastores das ascéticas planuras –
Lançam este pregão ao soluçar dos ventos,
À nuvem erradia,
Às penhas duras:
- Que é dele, o eterno Ausente,
- Cantor da nossa melancolia?


Nas tardes duma luz de íntimo fogo, 
Rescendentes de tudo o que passou,
Eu próprio me interrogo:
- Onde estou? Onde estou?
E procuro nas sombras enganosas
Os fumos do meu sonho derradeiro!

- Ventos, que novas me trazeis das rosas,
Que acendiam clarões no meu jardim?

- Pastores, que é do vosso companheiro?

- Saudades minhas, que sabeis de mim?

 
Mário Beirão
Foto: Luis Beirão 
Poeta nascido em Beja em 1890 e falecido em Lisboa em 1965 (75 anos). Poeta saudosista e nostálgico, foi um dos colaboradores da revista Águia (à qual esteve ligado Teixeira de Pascoaes). A revista fazia parte do movimento da Renascença Portuguesa, nascido no Porto em 1912, com o objectivo patriótico de renovar, dar conteúdo e fundamentar intelectualmente o movimento republicano, uma vez que a I República foi implementada em Portugal em 1910. Inicialmente a Renascença tinha um espírito abrangente, e conviviam na Renascença autores das mais diversas sensibilidades artísticas e políticas. Apesar disso, as saídas sucederam-se: Pessoa e Sá Carneiro para fundarem a Orpheu, António Sérgio mais tarde, entre muitos outros, afastaram-se do grupo. Mário Beirão tornou-se, a nível político, um dos apoiantes da ditadura salazarista do Estado Novo, e ficou conhecido por ter escrito o Hino da Mocidade Portuguesa. Apesar de tudo, vale a pena rever a sua poesia.
 


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