05 setembro 2015

VEM VENTO, VARRE



Vem vento, varre
sonhos e mortos.
Vem vento, varre
medos e culpas.
Quer seja dia,
quer faça treva,
varre sem pena,
leva adiante
paz e sossego,
leva contigo
nocturnas preces,
presságios fúnebres,
pávidos rostos
só cobardia.


Que fique apenas
erecto e duro
o tronco estreme
de raiz funda.

Leva a doçura,
se for preciso:
ao canto fundo
basta o que basta.


Vem vento, varre!



Adolfo Casais Monteiro
Breves notas: este poeta, nascido no Porto em 1908 e falecido aos 64 anos, em 1972, em S. Paulo (Brasil), para onde se tinha exilado em 1954 por motivos políticos (vivia-se então em Portugal a época do Estado Novo), começou por ser professor no Liceu Rodrigues de Freitas, na sua cidade natal. Afastado do ensino em 1937, esteve ligado à revista "Presença, da qual foi director", com José Régio e João Gaspar Simões. A revista coimbrã foi muito importante na segunda fase do movimento modernista em Portugal. Foi editor e tradutor em Lisboa, até ir para o Brasil, onde leccionou Literatura nas Universidades da Bahia e Estadual Paulista (UNESC).

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