29 junho 2011

NÃO TENHAS


Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,
Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,
Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.

Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?
Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?
Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra
Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste. 

Senta-te ao sol. Abdica.
E sê rei de ti próprio.




Ricardo Reis
(fotografia: anónimo, EUA)

03 junho 2011

DÁDIVA

à minha frente e à minha vista
os castelos desmoronam-se 
diariamente
e eu fico aqui impotente
a ver tudo ruir
não fosse este maldito instinto 
para permanecer
e também decerto acabaria por cair
definitivamente
assim
mil e uma vezes 
beijo o pó deste caminho
e mil e uma vezes 
me levanto combalido
com o peito cansado e oprimido
para continuar a arrastar-me pelas veredas
sem rumo e sem sentido definido
como barco vogando 
ao sabor das tempestades
desconheço já praticamente tudo 
daquilo que sou
todas as minhas saudades
e vontades
e todos os dias me dou
me sacrifico a um deus desconhecido
e a outras mais estranhas divindades
neste mar imenso 
difícil é achar um porto de abrigo
mas afinal nada tenho de que me queixar
pois sou eu quem todos os dias
me talho e lanço ao mar
numa ânsia de novos orientes
e agora em tudo o que digo
inclusive nestas frases reluzentes
raramente encontro motivos ou razões
excepto esta angústia 
que me move e me atravessa
esta estagnação 
disfarçada de urgência ou pressa
com que tomo cafés 
e acendo cigarros todos os dias
o tempo...
o tempo existe para se queimar
para se ver passar
lentamente
e sem grandes espasmos na alma
mas na verdade o meu tempo
não passa 
arrasta-se penosamente...
não suporto mais este meu tempo
esta vida estas frases
este lamento
a urgência é grande pela libertação
e a libertação
impõe-se pelas várias ausências
e são estas e outras violências
que me movem
Cárcere do ser cárcere do pensar não haverá libertação de ti?
ah não nenhuma nem a morte!
teria porventura razão o Campos
mas entretanto adormeço
permaneço
anestesiado 
enterro estes meus prantos
num canto mais recôndito num sótão
numas águas furtadas
e a luz das diferentes manhãs
e o orvalho das diversas madrugadas
continuam a suceder-se impiedosamente
a atravessar este meu corpo inerte
estes meus membros marmóreos
e estes meus olhos vitral...
e é a elas que eternamente me dou
numa dádiva
incessante e imutável
já muito para lá
do próprio ritual...


Luís Beirão
(fotografia: Ana Almeida Santos)


01 junho 2011

QUARTAS - POESIA SOBRE CARRIS

Hoje, 22 horas
(Clube Literário do Porto)  
Sessão mensal das Quartas Mal Ditas

Guião / Coordenação: Anthero Monteiro
Leituras por: Amílcar Mendes, Ana Almeida Santos, Anthero Monteiro, António Pinheiro, Cláudia Pinho, Diana Devezas, Luís Filipe Carvalho e Rafael Tormenta
Música: Rui Paulino David

Apareçam!

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