01 fevereiro 2007
O POETA E A LUA
Em meio a um cristal de ecos,
O poeta vai pela rua,
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria.
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esfera nitentes
Tremeluzem pelos fulvos.
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água,
Palpita a ferida crua.
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada,
A lua vira em decúbito,
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços,
E o ventre que se menstrua,
A lua se curva em arco
Num delírio de luxúria.
O gozo aumenta de súbito
Em frémitos que perduram,
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens,
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua.
E a lua, no êxtase, cresce,
Se dilata e alteia e estua.
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E mingua e se apazigua…
O poeta desaparece,
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes.
Vinicius de Moraes
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1 comentário:
A lua cheia desperta a loucura no inconsciente humano da mesma forma que provoca as marés. um dos poemas mais eróticos que já li.
parabéns, Luís, pelo bom gosto.
beijinho
CSD
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