sordidez diária
diária fábula inconclusa
onde a gente se afunda cada vez mais
e mais
e mais
e mais...
pequenez quotidiana
tudo parado
tudo estagnado
tudo resumido
condensado
impregnado
anestesiado
atolado
afogado
inundado
num lodaçal permanente
de desesperança
de desilusão
e de inevitabilidades
que nos aguardam a cada esquina
e nos perseguem
e nos agarram
e nos prendem
e nos amarram
e não nos deixam esbracejar.
não há como fugir.
há uma longa lista de infracções
e impossibilidades
e não se pode transgredir.
não há prisões
há a grande prisão de todos os dias
um imenso espaço físico onde nos podemos mover
mas sem nenhum espaço mental
senão o que se reduz a esta estreita faixa
por onde diariamente caminhamos.
sinto-me a enlouquecer.
devagarinho.
noutros momentos penso
estou afinal lúcido demais.
resta-me o consolo de uma infância
e dos sonhos que a acompanharam
de uma criança aparentemente frágil
a que por vezes me agarro desesperadamente
onde tento buscar o meu alimento
o meu alento de todos os dias.
não encontro palavras para o que procuro exprimir
nem para mim mesmo
para auto-consumo
e auto-digestão.
ocorre-me a palavra angústia.
agonia.
desfalecimento contínuo.
estagnação.
pântano.
modorra.
masmorra.
cárcere.
apetece-me gritar
andar nu pelas ruas da cidade.
bater em alguém até que a minha mão fique a sangrar.
ou alguém bater-me
até eu me arrastar para um canto
e aí possa desfalecer
sem conseguir pensar em mais nada.
preciso de loucura a temperar a minha existência
sentir de algum modo que sou mesmo livre
que o meu espírito é maior que todas estas pequeníssimas coisas
que toda esta mesquinhez que me rodeia.
ocorre-me que nem sempre foi assim.
ou então as coisas sempre foram deste modo
e eu permanentementediária fábula inconclusa
onde a gente se afunda cada vez mais
e mais
e mais
e mais...
pequenez quotidiana
tudo parado
tudo estagnado
tudo resumido
condensado
impregnado
anestesiado
atolado
afogado
inundado
num lodaçal permanente
de desesperança
de desilusão
e de inevitabilidades
que nos aguardam a cada esquina
e nos perseguem
e nos agarram
e nos prendem
e nos amarram
e não nos deixam esbracejar.
não há como fugir.
há uma longa lista de infracções
e impossibilidades
e não se pode transgredir.
não há prisões
há a grande prisão de todos os dias
um imenso espaço físico onde nos podemos mover
mas sem nenhum espaço mental
senão o que se reduz a esta estreita faixa
por onde diariamente caminhamos.
sinto-me a enlouquecer.
devagarinho.
noutros momentos penso
estou afinal lúcido demais.
resta-me o consolo de uma infância
e dos sonhos que a acompanharam
de uma criança aparentemente frágil
a que por vezes me agarro desesperadamente
onde tento buscar o meu alimento
o meu alento de todos os dias.
não encontro palavras para o que procuro exprimir
nem para mim mesmo
para auto-consumo
e auto-digestão.
ocorre-me a palavra angústia.
agonia.
desfalecimento contínuo.
estagnação.
pântano.
modorra.
masmorra.
cárcere.
apetece-me gritar
andar nu pelas ruas da cidade.
bater em alguém até que a minha mão fique a sangrar.
ou alguém bater-me
até eu me arrastar para um canto
e aí possa desfalecer
sem conseguir pensar em mais nada.
preciso de loucura a temperar a minha existência
sentir de algum modo que sou mesmo livre
que o meu espírito é maior que todas estas pequeníssimas coisas
que toda esta mesquinhez que me rodeia.
ocorre-me que nem sempre foi assim.
ou então as coisas sempre foram deste modo
bêbado de vinho
de alegria
de cerveja
de amor
de whisky
de calor humano
inebriado pelo sonho ou pelo mosto
nunca olhei a direito para elas...
a minha linguagem atropela-se.
atropela-me.
não consigo fluir como um rio.
disperso-me em todos os sentidos
sem me concentrar em nenhum.
não é uma dispersão criativa
mas uma dispersão sem tino nem nexo
apenas e tão-só uma vontade incontrolável
de me espalhar pelos quatro cantos do cosmos
desfazer-me em milhentas partículas.
até não conseguir reconhecer-me.
até deixar de me ouvir a pensar.
até não pensar
(nunca mais)
em mais nada...
Luis Beirão
5 comentários:
Parabéns Luís!
Está cinco estrelas.
Eu não alteraria uma única vígula.
Um poema intensíssimo.
CSD
A intensidade, como sempre e felizmente. Muito bem, muito bom!
Bem... se houvesse alguma dúvida neste momento dissipar-se-ia! Os poemas que li são de uma intensidade e sentimento fora de série! Esta leitura reconforta a alma e provoca muita de paz de espírito! Palavras para quê? .. é uma poeta a viver! Beijinhos
Olá! O que eu queria dizer não era uma poeta, mas sim um Poeta! E Poeta com p maíusculo! É impossível não ler e impossível não vibrar! beijinho
Ana,
Ainda não tinha visto que tinhas andado a comentar por aqui... obrigado pelo interesse, a se´rio e ainda bem que gostaste. Mas usa um p minúsculo, mesmo... que o maiúsculo, de certeza não o mereço nem sei se algum dia gostaria de o usar, por ser demasido... maiúsculo ;-).
Gracias!! Bjs.
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