19 novembro 2006

AMAR...


Que pode uma criatura
senão, entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente,
de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita...


Carlos Drummond de Andrade

4 comentários:

ana disse...

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita...


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita...


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita...

Luis Beirão disse...

Infinita, de facto...
Vale a pena repetir, na verdade.

Conceição Paulino disse...

e com fraterno e verdadeiro amor te dou os Parabéns pelo início de + um ano e te desejo milhares de pequenas coisas boas para equilibrar todas as restantes que este vida transporta. Bj, Luís Beirão

Conceição Eugénio disse...

e agora? o comentário seguiu ou...desapareceu?
Recomeço: e com fraterno e verdadeiro Amor te deixo os Parabéns por este ano que começa e q este seja repleto e milhares de pequenas e boas coisas para compensar todas as outras que a vida tmb contém. bj


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