30 abril 2008

CONCERTO EM SINTONIA MAIOR

Concerto em Sintonia Maior (clicar para ver página)
Entrada gratuita!
Local: Sala Mário Neves, da Academia de Música de Espinho (Rua 34, Espinho)
Hora e dia: 21.30 h, dia 03 de Maio (próximo Sábado)
(entrada grátis mas apenas mediante levantamento ou reserva de bilhetes a partir do dia 02, Sexta-Feira, pois os lugares são limitados)
Espectáculo poético-musical integrado no festival TUCÁTULÁ, da responsabilidade da Câmara Municipal de Espinho.

A Onda Poética (tertúlia poética mensal que tem lugar no Bar Dominó do Casino de Espinho) fez recentemente 10 anos de existência. Dada a colaboração musical que lhe foi prestada durante largo tempo pela Academia de Música de Espinho, este espectáculo é uma forma de retribuição, com poemas escolhidos em torno da temática da música, que serão ditos acompanhados por alunos e professores da Academia, que interpretarão variados temas em diversos instrumentos.

Os bilhetes podem ser levantados na Academia ou na Junta de Freguesia de Espinho. Como alternativa, todos os interessados podem contactar-me por esta via (deixando comentário) ou por e-mail (ver o meu perfil).

Participações musicais: Inês Breda; Profª Graça Bastardo; Joana Oliveira; Cíntia França; Hugo Teixeira; Profª Fiammetta Facchini; Susana Oliveira; Filipa Curral; Gil Clément; Ricardo Soares; Ana Sofia Moreira; Profª Sandra Almeida; Tiago Rodrigues; José Tiago Baptista; Prof. Jorge Ferreira; Prof. Fernando Seabra; Profª Sofia Guedes.
Participações poéticas: Anthero Monteiro; Carlos Jorge; Céu Reis; Diana Devezas; Gilberto Pereira; Luís Carvalho.

18 abril 2008

OLHARES CANSADOS

I
Corpos:
Suados, cansados, mirrados,
Que pela seara* vêm caminhando.
Olhares:
Mortos, vagos, parados,
Sem forças para olhar.
Cérebros que pensam sem pensar,
Pernas que andam sem andar,
Obedecendo a uma rotina
Que a mente já não pode controlar.
A vida passou ao lado,
Mas nem a morte quis ficar!
Ficou apenas um sono,
Uma letargia,
Que transforma os homens
Em mortos vivos,
Que nem ousam sequer pensar.
Não ousam...
Não ousam, ou já esqueceram,
Pois há já muito tempo que não pensam.
Trabalham, apenas....

II
Olhares cansados que se cruzam,
Sem se dar conta de que o fazem,
Pois que se esquecem de olhar.
Olhares mortos, vagos, parados,
Guardam ainda na retina
A seara* de tomate que todo o dia contemplaram...
O dia alongou-se, parecia não ter fim...
E quando o corpo se vergava, por fim,
O pôr-do-sol chegou...
E com ele, um vermelho quente, sem vida, desmaiado
(como os olhos voltando da seara*),
Inundou tudo, como se a seara* fosse de fogo.
E depois a noite desceu...
Agora, a caminho da aldeia,
As mentes fatigadas, as pernas cansadas,
Os olhares parados, as mãos calejadas,
Querem apenas o repouso merecido.
Comem não para viver,
Mas para cumprir o mesmo ritual...
Espera-os uma noite agitada,
Trabalhando como sempre na seara*,
Pois a mente, cansada,
Nada mais consegue sonhar!
E levantam-se antes do nascer do sol,
Para mais um dia de trabalho.
A noite não lhes deu repouso:
A mente não descansou, só o corpo.
E lá vão...
Olhares cansados,
Mortos, vagos, parados,
A caminho, como voltaram,
Da seara*...
Luis Beirão
Fotografia: Dan Shirley (R. Unido)
.
*O termo seara aplica-se, é sabido, a um campo de cereais, mas neste poema surge associado a um campo de tomate, pois refere-se à forma como era designado pelos locais. Houve tempos em que parte significativa da população das aldeias montanhosas e pobres das Beiras migrava, sazonalmente, para o Alentejo e Ribatejo para trabalhar na época das colheitas (sobretudo cereais), onde eram usados como mão-de-obra intensiva, dormindo em barracões ou ao relento. Eram pagos à jorna e as condições de trabalho eram duríssimas, apenas para regressarem no Inverno com algum dinheiro às suas aldeias natais. É vulgar ouvir-se aos mais idosos das pequenas aldeias da Beira Baixa contarem histórias da época da sua vida em que "foram para a ceifa". Este fenómeno, embora residual, ainda persiste, hoje em dia mais associado à agricultura intensiva e de regadio do Ribatejo onde, com a reconversão agrícola, muitas extensões de terra antes usadas para cultivo de cereais (e por isso anteriormente designadas de searas), são agora ocupadas por culturas intensivas de produtos para a indústria alimentar (como é o caso do tomate) que ainda exigem, apesar da maquinaria, muita mão-de-obra num curto espaço de tempo, sob pena das colheitas se perderem. Este poema foi escrito há 12/13 anos atrás em Valada, aldeia perto do Cartaxo. Não resisto a recomendar, para quem quiser saber um pouco mais sobre este fenómeno, a leitura do romance "Gaibéus" (1939) de Alves Redol.

14 abril 2008

POESIA - PRÓXIMOS EVENTOS

Hoje, 21.30 h, Bar Dominó do Casino de Espinho (Espinho)
Sessão de Abril da Onda Poética

"Aquele dia de luz"
Novos poemas de Abril; Música; Espontâneos.
Coordenação: Anthero Monteiro; Leituras: Onda Poética, abertas ao público; Música: Carlos Andrade (voz e guitarra acústica)

Quarta (dia 16), 22 h, Clube Literário do Porto
Sessão de Abril das Quartas MalDitas

"Por um mundo melhor"
Convidado especial: Papiniano Carlos (poeta); Outros convidados: Cecília Moreira; Carlos Dias; Música: Carlos Andrade (voz e guitarra acústica; Coordenação: Anthero Monteiro; Leituras: António Pinheiro, Diana Devezas, Joana Padrão, Luís Carvalho, Mário Vale Lima, Marta Tormenta e Rafael Tormenta.

Para mais informações (localização, contactos, etc) clicar aqui



07 abril 2008

SEPARAÇÃO


Desmontar a casa
e o amor. Despregar
os sentimentos das paredes e lençóis.
Recolher as cortinas após a tempestade
das conversas.
O amor não resistiu
às balas, pragas, flores
e corpos de intermeio.

Empilhar livros, quadros,
discos e remorsos.
Esperar o infernal
juízo final do desamor.

Vizinhos assustam-se de manhã*
ante os destroços junto à porta:
-pareciam amar-se tanto!*

Houve um tempo:
uma casa de campo,
fotos em Veneza,
um tempo em que sorridente
o amor aglutinava festas e jantares.

Amou-se um certo modo de despir-se
de pentear-se.
Amou-se um sorriso e um certo
modo de pôr a mesa*. Amou-se
um certo modo de amar.

No entanto, o amor bate em retirada
com as suas roupas* amassadas, tropas de insultos
malas desesperadas, soluços embargados.

Faltou amor no amor?
Gastou-se o amor no amor?
Fartou-se o amor?

No quarto dos filhos
outra derrota à vista:
bonecos e brinquedos pendem
numa colagem de afectos nado-mortos.*

O amor ruiu e tem pressa de ir embora
envergonhado.

Erguerá outra casa, o amor?
Escolherá objectos*, morará na praia?
Viajará na neve e na neblina?

Tonto, perplexo, sem rumo
um corpo sai porta fora
com pedaços de passado na cabeça
e um impreciso futuro.
No peito, o coração pesa
mais que uma mala de chumbo...

.
.
Affonso Romano de Sant'Anna
.
Alguns dados sobre o poeta: - Nasceu em 1937 em Belo Horizonte e foi criado em Juiz de Fora. Lança o seu primeiro livro em 1962. Fez parte de vários movimentos da moderna poesia brasileira e participou em movimentos políticos e sociais que marcaram o país. Desde 1965 até hoje, leccionou várias vezes no Brasil e estrangeiro (E. Unidos, Alemanha, França). Promoveu nos anos 70 a visita de conferencistas internacionais ao Rio, entre os quais Michel Foucault, cuja visita teve grande impacto num país em pleno regime ditatorial. Em 1984, assume no "Jornal do Brasil" a coluna que era de Carlos Drummond de Andrade. O jornal publica os seus poemas na página de política, e não no suplemento literário. Segundo o mesmo, o poeta deve falar sobre assuntos que interessem às pessoas em geral, e reencontrar o seu lugar na sociedade.Foi nos anos 90 Presidente da Fundação Biblioteca Nacional (a oitava maior biblioteca do mundo) e criou o Sistema Nacional de Bibliotecas e o PROLER (Programa de Promoção da Leitura).
Nota final: palavras a asterisco adaptadas para português europeu: vizinhos se assustam de manhã; pareciam se amar tanto; botar a mesa; com suas roupas amassadas; afectos natimortos; objetos.

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